Artigo – O impacto da certificação ESG no mercado imobiliário – Por Pedro Gabriel Príncipe Ferreira 67d1i

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Práticas ESG tornam o mercado imobiliário mais sustentável, inclusivo e lucrativo, aliando inovação tecnológica, responsabilidade social e governança ética.

Introdução à certificação ESG no setor imobiliário

A certificação ESG - Ambiental, Social e Governança vem se consolidando como um dos principais vetores de transformação no setor imobiliário. Diante da crescente demanda por empreendimentos mais responsáveis, sustentáveis e socialmente comprometidos, empresas do setor têm buscado alinhar suas práticas aos critérios ESG como forma de agregar valor, atrair investidores e atender a exigências regulatórias e de mercado cada vez mais rigorosas.

Desde os anos 2000, a pauta da sustentabilidade tem ganhado relevância global, com destaque para o papel da ONU - Organização das Nações Unidas no estímulo à agenda ESG por meio do Pacto Global, em 2004. Em 2015, os ODS - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável reforçaram esse movimento, estabelecendo metas claras de progresso ambiental, social e econômico até 2030. Nesse contexto, a certificação ESG ou a ser compreendida não apenas como um diferencial competitivo, mas como uma diretriz estratégica para a perenidade dos negócios.

No Brasil, esse cenário tem impactado diretamente o setor imobiliário, impulsionando a adoção de padrões mais exigentes de governança, responsabilidade social e gestão ambiental. Empreendimentos que incorporam práticas ESG obtêm, além da valorização patrimonial, vantagens financeiras como o facilitado a linhas de crédito verdes e incentivos públicos.

Mais do que um selo ou status, a certificação ESG simboliza o compromisso com uma nova forma de construir e gerir espaços urbanos - mais eficientes, inclusivos e resilientes. Em um mercado cada vez mais atento ao impacto das suas decisões, estar em conformidade com os critérios ESG significa estar preparado para o futuro.

Benefícios econômicos das práticas ESG

Além de representar um compromisso ético com a sustentabilidade e a responsabilidade social, a adoção de práticas ESG também se traduz em vantagens financeiras concretas para o setor imobiliário. Estudos revelam que empresas com forte aderência aos princípios ESG tendem a apresentar rentabilidade superior no longo prazo, em comparação com aquelas que negligenciam tais práticas.

De acordo com a Harvard Business Review, empresas que adotam práticas ESG registram, em média, 15% a mais de rentabilidade em relação às suas concorrentes. Essa vantagem decorre não apenas da valorização dos ativos, mas também da melhoria na reputação da marca e do aumento da confiança dos investidores e consumidores.

Outro benefício relevante está na redução de custos operacionais. Empreendimentos imobiliários sustentáveis, que investem em eficiência energética, gestão de resíduos e uso racional de recursos, conseguem diminuir significativamente seus gastos recorrentes. Essa economia impacta diretamente a lucratividade dos projetos, tornando-os mais atrativos no médio e longo prazo.

Embora o investimento inicial em soluções ESG possa ser elevado, os retornos acumulados ao longo do tempo superam esses custos, tornando o modelo não só viável, mas estrategicamente vantajoso. A busca por certificações e práticas alinhadas ao ESG, portanto, não deve ser vista apenas como um diferencial competitivo, mas como um elemento essencial de resiliência financeira e valorização patrimonial.

O papel das tecnologias sustentáveis

A implementação de tecnologias sustentáveis é fundamental para atingir os altos padrões exigidos para a certificação ESG. No setor imobiliário, isso significa adotar medidas que aumentem a eficiência energética das edificações durante a construção e operação, reduzindo significativamente o consumo energético e as emissões de carbono.

Essa aplicação não se limita a novas construções; retrofitar prédios antigos para torná-los alinhados aos padrões ESG é igualmente importante. Práticas como a gestão eficaz de resíduos, onde a reciclagem e a reutilização são priorizadas, ajudam a mitigar o impacto ambiental do setor, um dos maiores consumidores de recursos naturais e energéticos.

No âmbito da governança, as empresas são encorajadas a implementar políticas transparentes que garantam uma gestão responsável dos recursos, promovendo a prestação de contas e a transparência. Estes elementos, quando bem implementados, não apenas aumentam a eficiência operacional, mas também criam um ambiente de confiança com investidores e clientes.

Governança, inclusão social e certificação ESG

A base sólida para a certificação ESG no setor imobiliário é construída em práticas de governança eficazes, onde a transparência e a ética são fundamentais. Políticas bem implementadas garantem que as empresas atuem de forma responsável, prestando contas de suas operações e estratégias.

Além disso, a inclusão social é um aspecto vital da certificação ESG. Projetos imobiliários com preocupações reais incluem ibilidade para pessoas com deficiência e a criação de espaços comunitários, promovendo a inclusão e criando ambientes mais integrados e acolhedores para todos. Essas práticas não apenas impulsionam a responsabilidade social corporativa, mas também fortalecem os laços com as comunidades locais.

A combinação dessas práticas não apenas melhora o desempenho ambiental das edificações, mas também fortalece a conexão das empresas com as comunidades, solidificando uma governança sólida e transparente. Em última análise, esse alinhamento com diretrizes ESG abre caminho para um desenvolvimento econômico mais equitativo e sustentável.

Além dos pilares básicos do ESG

Com a crescente importância de práticas sustentáveis, aspectos como diversidade e inclusão, saúde e bem-estar, e inovação, entre outros, ganham destaque como complementos poderosos para os pilares de meio ambiente, sociedade e governança.

Além dos pilares básicos de ambiental, social e governança, existem diversas áreas onde o ESG pode agregar valor:

a) Diversidade e inclusão

  • Reflete um compromisso com uma sociedade mais equitativa;
  • Promove inovação e melhora a tomada de decisões;
  • Empreendimentos valorizando diferentes gêneros, etnias e backgrounds.

b) Saúde e bem-estar

  • Integração de princípios de design biófilo;
  • Espaços verdes e zonas de relaxamento;
  • Promoção do bem-estar mental e físico dos ocupantes.

c) Ações sociais e comunitárias

  • Iniciativas educacionais e projetos de revitalização;
  • Apoio a causas sociais e envolvimento comunitário;
  • Demonstração de compromisso com o desenvolvimento local.

d) Ética nos negócios

  • Promoção de práticas de governança transparente;
  • Políticas anticorrupção e proteção dos direitos dos acionistas;
  • Reforço da confiança e integridade corporativa.

e) Tecnologia sustentável

  • Implementação de sistemas inteligentes e eficientes;
  • Construção inteligente e automação predial;
  • Redução do impacto ambiental através da tecnologia.

f) Educação e conscientização

  • Formação de stakeholders sobre importância do ESG;
  • Inspiração a práticas sustentáveis em investidores e moradores.

g) Cadeia de suprimentos responsável

  • Seleção de fornecedores comprometidos com ESG;
  • Garantia de qualidade e manutenção da reputação empresarial.

h) Inovação e adaptação

  • Resposta às demandas climáticas e sociais atuais;
  • Diferenciação competitiva através de práticas criativas e sustentáveis.
  • Incentivos governamentais

Governos ao redor do mundo têm reconhecido a importância das práticas ESG para a promoção do desenvolvimento sustentável e vêm implementando políticas públicas que incentivam sua adoção, especialmente no setor imobiliário. No Brasil, diversas iniciativas têm buscado estimular empreendimentos mais sustentáveis por meio de benefícios fiscais, desburocratização de processos e linhas de crédito específicas para projetos com impacto socioambiental positivo.

Entre os principais incentivos estão os descontos no IPTU Verde - Imposto Predial e Territorial Urbano, aplicados por diversos municípios brasileiros a imóveis que adotam medidas sustentáveis, como reaproveitamento de água, painéis solares e telhados verdes. Além disso, Estados e municípios oferecem prioridade na tramitação de licenças ambientais e urbanísticas, o que pode acelerar significativamente a aprovação de projetos sustentáveis.

As instituições financeiras também têm desempenhado papel relevante nesse cenário. Bancos públicos e privados têm criado linhas de financiamento verdes, com juros mais baixos e prazos mais vantajosos para empreendimentos com certificações ESG. Esses instrumentos ampliam a viabilidade econômica dos projetos e fortalecem a cultura de responsabilidade socioambiental no mercado imobiliário.

Por fim, programas Federais e municipais vêm fomentando PPPs - parcerias público-privadas para requalificação de áreas urbanas degradadas, condicionadas à adoção de práticas alinhadas com os princípios ESG. Tais incentivos não apenas impulsionam o setor, mas também contribuem para o cumprimento das metas nacionais de sustentabilidade e das diretrizes globais estabelecidas, como os ODS - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

Considerações finais

A certificação ESG representa um marco na evolução do setor imobiliário, demonstrando que a sustentabilidade deixou de ser uma escolha opcional para se tornar uma exigência do mercado moderno. Empresas que integram práticas ambientais, sociais e de governança em sua estratégia organizacional não apenas se destacam perante os concorrentes, como também constroem negócios mais resilientes e duradouros.

O mercado imobiliário, por sua natureza estruturante, exerce impacto profundo sobre a sociedade e o meio ambiente. Ao adotar os critérios ESG, os empreendimentos contribuem para a construção de cidades mais inclusivas, eficientes e sustentáveis, alinhando-se a uma nova lógica de desenvolvimento urbano centrado nas pessoas e na preservação dos recursos naturais.

Além dos ganhos reputacionais, a adoção do ESG gera vantagens concretas em termos de retorno financeiro, o a investimentos e mitigação de riscos. A incorporação desses princípios em todas as etapas - do projeto à operação - amplia o valor dos ativos e fortalece a relação de confiança com stakeholders, incluindo investidores, clientes, governos e comunidades locais.

Diante de um cenário de crescente cobrança por responsabilidade corporativa e transparência, a certificação ESG se consolida como um diferencial competitivo estratégico e, mais do que isso, como um compromisso com o futuro. O setor imobiliário que abraça essa agenda não apenas prospera, mas assume um papel protagonista na construção de um modelo de desenvolvimento mais justo, sustentável e inovador.

Fonte: Migalhas